02 maio 2007

O Aniversário do Coronel

O fim-de-semana santa-cruzense foi muito rico para o folclore político local e para os pesquisadores das ciências sociais.

Objetivamente, refiro-me às repercussões e comentários inerentes e decorrentes à teatralidade festiva do aniversariante ilustre.

Não restam muitas adjetivações possíveis para descrever a construção do mito local. De histórico, práticas e valores polêmicos, mas inspirado e legitimado pelos mandatos eleitorais adquiridos, move-se como que imantado por um salvo-conduto comportamental.

Em seu universo mágico prevalecem conceitos ético-políticos muito próprios, a exemplo da publicidade e ostensividade do seu mais aclamado convidado.

Uma animada e sorridente caminhada pelas ruas centrais da cidade desafiou a memória popular dos fatos recentes que enxovalharam a política nacional e lesaram os cofres públicos.

Mas a ponderar pela fila de abraços e cumprimentos e poses fotográficas, o convidado foi política e moralmente anistiado. Ou será apenas parte da memória pública esclerosada?

O mitificado anfitrião e o anti-herói convidado sorriem, ainda que meio sem jeito. Inteligentes que são, bem dissimulam. Mas seu sorriso “amarelo” ainda é bem menor que o “amarelo” sorriso do povo.

Mas o que importa a “cor” de um sorriso, ou a não-autenticidade de um gesto naquilo que se denomina um jogo. E, em sendo um jogo, de verdade não é! Ou é?

Verdades e mentiras, crimes e inocência, defeitos e virtudes, piadas e fofocas, tudo transcende ao seu próprio significado.

A verdade sucumbe diante da construção de um mito. O mito se sobrepõe a quaisquer julgamentos de valor acerca de qualquer coisa. O mito tem o poder da sedução.

O povo se “entrega” e assiste à metódica desconstrução da verdade, sob o predomínio da indiferença e da não indignação.

A julgar pela peregrinação e o beija-mão, a sedução do mito é tão intensa que sucumbem emergentes valores e vocações pessoais.

Claro, é da natureza dos partidos e do político seu agudo instinto de sobrevivência. Muda o discurso, muda o comportamento, muda o que for necessário e de acordo com a nova perspectiva. Submetem-se às exigências do vir-a-ser.

É tão “natural e inocente” seu procedimento que “todos” assimilam e legitimam seus valores e sua conduta. Então, como é possível desafiar a verdade nova e sua inevitabilidade temporal?

Tudo isto significa que nada mais é absoluto e, portanto, não há princípios ou limites. Tudo é permitido, tudo é relativo. Não há mais valores e compromissos inalteráveis.

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