04 setembro 2007

A Caminho de Utopia

O alemão Jürgen Habermas (1929), em texto titulado como “A Nova Intransparência – a crise do estado de bem-estar social e o esgotamento das energias utópicas”, pergunta, em certo momento:

“- Dispõe o estado intervencionista de poder bastante, e pode ele trabalhar com eficiência suficiente para domesticar o sistema econômico capitalista no sentido do seu programa?

E será o emprego do poder político o método adequado para alcançar o objetivo substancial de fomento e proteção de formas emancipadas de vida digna do homem?”

Prossegue e responde Habermas: “Trata-se, pois, em primeiro lugar, da questão dos limites da possibilidade de conciliar capitalismo e democracia, e, em segundo lugar, da questão das possibilidades de produzir novas formas de vida com instrumentos burocrático-jurídicos”.

Estas questões permanecem extremamente atuais, haja vista a profunda crise sócio-econômica em que está imersa a maioria das nações.

Marasmo social, desânimo, desemprego, miséria, guerras, são alguns fatos e constatações disseminadas pelo mundo. Há uma crise de valores, crise no sistema de crenças, falta de esperanças. Uma crise por falta de utopias.

Voltando no tempo: face às guerras religiosas e às injustiças decorrentes da apropriação pelos senhores feudais das terras comunitárias das aldeias camponesas, o ministro inglês Thomas Morus(1478-1535), escreveu sobre uma ilha imaginária, denominada Utopia.

Na Utopia, de Morus, não havia propriedade privada, havia liberdade de pensamento e religião, e onde as funções da lei e do estado eram gerar abundância e felicidade.

Utopia, do grego “ou + topos”, significa “lugar nenhum”. Significa um ideal, um sonho para além das misérias e problemas do mundo real, frutos do egoísmo, da ganância e da intolerância humana.

Há outros exemplos da construção utópica do sonho da paz, da justiça, da ordem, da abundância e da confraternização.

A República, de Platão. A sonhada Atlântida. O Império Inca. A Nova Atlântida, de Francis Bacon. Cidade de Sol, do frade Tomaso Campanella. Oceana, de James Harrington. Terre Australe de Gabriel Foigny. O ano de 2440, de Louis Sebastien Mercier. Viagem a Içaria, de Etienne Cabet. A Harmonia, de Charles Fourier. O Manifesto Comunista, de Marx e Engels.

Também existiram os autores anti-utópicos – “dus + topos – lugar defeituoso, ruim”. Os exemplos mais conhecidos são “1984” e “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, bem como o “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley. São versões da crítica, da ironia, da desconfiança. Partes integrantes e necessárias para a síntese.

Refrescada a memória histórico-literária, finalizo e pergunto: os conflitos e as contradições atuais serão a massa e o tempero para fazer renascer a esperança e a reconstrução das utopias? Ou não haverá mais utopia?

Nenhum comentário: