05 dezembro 2007

A Raiz do Pessimismo

Por que nosso Presidente insiste em dizer que as coisas estão melhorando se a percepção geral é de que as coisas estão piorando?

Há uma notória sensação (n) das pessoas de que "nunca antes na história este país foi tão corrupto", ainda que saibamos que a coisa possa não ser exatamente assim.

É crível que essa associação seja decorrente de uma renovada capacidade policial de ação, denúncia e publicidade dos fatos delituosos.

É possível que a sensação esteja diretamente ligada às denúncias dos sucessivos escândalos, que parecem inesgotáveis!

A pessimista percepção se aguça e retempera nem tanto pelo volume do dinheiro desviado por todos os meios inimagináveis, mas, sobretudo, pelo grave dano moral e de princípios dos quais a nação não pode prescindir!

O ufanismo governamental se revela intempestivo e inconseqüente quando o povo faz a analogia e a comparação dos recursos roubados relativamente às carências de áreas sociais marginalizadas, a exemplo de saúde, educação, saneamento e segurança pública.

E quando se pensa que tudo quanto escândalo já esteja à luz do dia, às vezes descerrado por questiúnculas partidárias e fatores passionais, estarrece qualquer cidadão o pensar de que quantos mais fatos delituosos não estão nos subterrâneos do aparato e gigantismo das relações estatais, como um iceberg que mostra apenas uma pequena face e esconde o bloco gigante sob as águas.

É tão profundo o desencanto e o pessimismo que seguidamente estamos em exercícios de reflexão e prospecção psicosocial e psicanalítico para tentarmos entender nossa própria natureza ética e comportamental individual e coletiva.

São reflexões que, passo seguinte, alcançam e questionam a viabilidade do próprio sistema representativo e judicial.

Outro aspecto deprimente que amplia a sensação de orfandade, é que - mesmo face ao bom trabalho policial - nem sempre as provas reunidas e a peça acusatória produzida são suficientes para a condenação e aprisionamento do delinqüente de colarinho branco.

Ademais, o pessimismo se agrava ao percebermos que mesmo advogados sem genialidade jurídica são capazes de protelar julgamentos via recursos e lentidão judicial, e empurrar o processo para a posteridade, para o além-túmulo.

De modo que chegamos ao ponto central de nossa angústia e pessimismo coletivo. Trata-se da impunidade. Do pequeno, médio e grande delito, público ou privado, oneroso ou não, uma marca é comum à maioria: a impunidade!

Basicamente, nisso reside a motivação do delinqüente. A falta de eficácia na punição, combinada com a expectativa de ganhos exponenciais, determina que o crime compense.

A tarefa que nos cabe, o desafio da sociedade, é justamente mudar essa situação. O crime não pode compensar!

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