05 setembro 2008

Conflito e Consenso na Política

Há um aspecto da política vigente que se tem revelado recorrente, insolúvel, danoso e prejudicial aos interesses das comunidades e da nação. Trata-se da negação do conflito. E a construção dos (falsos) consensos.
Inicialmente, o que pode parecer um oportunismo dos políticos, ou uma covardia no trato de desafiadoras e complexas questões, na verdade é um resultado da fragmentação da reivindicação social.
Nós estamos presenciando uma mudança do papel da política. Ela não responde mais, e exclusivamente, pela definição dos rumos sociais. E nem promove os necessários debates e exame de alternativas.
Face à emergência de novos atores que disputam espaços de representação e participação, as diferenças e os ânimos se acirram nos conflitos sociais.
Assim, à falta de respostas e soluções objetivas de parte da política, e sua submissão aos grupos de interesse, determina a ocorrência de uma pressão para que os políticos (e a política) ajam na forma de consenso.
Por improdutividade e insegurança política ou não, resulta um falso consenso. Sacrifica-se o debate e impede-se o conflito a pretexto de que o consenso é positivo. Ou que o conflito é danoso e prejudicial à sociedade. É uma nova ideologia!
Mas é uma falsa ideologia e deve ser denunciada. A carência de debates (e conflitos) gera uma mistificação e, com certeza, traduzirá uma falsa hegemonia de posição e relação de poder.
Por exemplo, há um desequilíbrio gritante entre o Legislativo e o Executivo. Quando não são “comprados”, a exemplo do “mensalão”, políticos se submetem aos pedidos governamentais e renunciam às suas faculdades institucionais.
Abdicam do conflito. Ignoram que a tensão é um fator criativo. Debate e o conflito são condições necessárias para um consenso de fato, em especial naqueles grandes temas que constituem os fundamentos da convivência social.
Mas a “índole do consenso”, que se verá no exercício da representação, constitui-se ao tempo das eleições.
Sucede às reuniões, formações e coligações político-partidárias inimagináveis. “Casamentos” que já não são mais responsabilidade da manipulação dos “caciques”, senão que restam acordados e justificados pelos demais partidários. Na maioria das vezes, de forma unânime!
Semeia-se, pois, desde já, o espírito do consenso. Não é a toa que já não há mais oposição. Organizam-se, em silêncio e pacificação, e restam o estado e a sociedade “capturados”!
De modo que nesses debates pré-eleitorais, creio que seria uma boa oportunidade de se questionar os candidatos, invocando seu compromisso acerca do papel institucional. Afinal, tão importante quanto governar, é exercer a oposição e a fiscalização!

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