29 agosto 2008

Anatomia de uma Medalha Olímpica

Enquanto que nas Olimpíadas de Atenas (2004) foram gastos R$ 280 milhões, no período preparatório 2005-2008, com vistas à Olimpíada de Pequim, foi demandado um investimento de R$ 654,7 milhões (veja em http://contasabertas.uol.com.br).
Dinheiro originário das Loterias, Lei de Incentivo ao Esporte, Ministério do Esporte e empresas estatais (R$247,9 milhões).
As empresas estatais são: Caixa Econômica (atletismo e ginástica), Banco do Brasil (voleibol), Correios (natação), Eletrobrás (basquete), Infraero (judô) e Petrobrás (handebol).
Excluindo as duas medalhas do futebol (que não recebeu dinheiro público) e a de César Cielo (preparado à custa dos seus pais), cada medalha custou R$ 54.558.333,00.
Foi a maior delegação olímpica brasileira de todos os tempos. 277 atletas. Esperávamos que os resultados fossem proporcionais à numérica delegação e aos investimentos financeiros.
Mas nós não deveríamos estar surpresos. Como pretender resultados diferentes se os investimentos alcançam apenas os atletas de ponta (relativamente a quem?), as confederações esportivas e o Comitê Olímpico.
O dinheiro nunca chega às bases escolares e populares, dificultando e não contribuindo para o surgimento e formação de novos atletas.
Onde estão as políticas públicas desportivas? E o envolvimento e comprometimento de municípios, estados, escolas e universidades?
Afinal, as autoridades políticas e olímpicas não “vivem” dizendo que a educação esportiva ajuda na formação do cidadão, no seu caráter, na saúde, na inclusão social, e que a ampliação da base da pirâmide esportiva gerará os atletas de níveis competitivos e internacionais?
Grosseiramente, é ignorado o mandamento constitucional (art.217) que determina que os recursos públicos destinados ao esporte devam ser aplicados prioritariamente no desporto escolar (meu grifo).
E quais são os obstáculos? Prioridades e obras que resultem em dividendos políticos e econômicos, concentração de recursos financeiros (em mãos de poucos), excessiva participação governamental e a perpetuação de dirigentes esportivos.
Carlos Arthur Nuzman, por exemplo, é presidente do Comitê Olímpico Brasileiro há 12 anos. Antes, ficara 20 anos na Confederação Brasileira de Vôlei!
Ou alguém já esqueceu os escândalos e as obras do PAN? Aumento de sete vezes o orçamento original. Superfaturamento. Serviços pagos e não prestados. Produtos comprados e não entregues. E, hoje, as instalações e equipamentos estão abandonados!
Nosso desempenho olímpico é um auto-retrato nacional, a exemplo de outras áreas. Descaso, corrupção, desperdício de recursos e talentos.
Não satisfeitos, os burocratas olímpicos e governamentais já planejam um novo salto acrobático. Refiro-me à possibilidade do Brasil sediar as Olimpíadas de 2016. Um salto mortal e definitivo nas contas públicas, com certeza!

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