02 janeiro 2009

Um novo ano mais decente

Toma conta do corpo e da alma um sentimento de esperança e otimismo. Porque queremos crer, e precisamos crer, que será melhor o ano que se avizinha.
Querendo ou não, é chegado aquele momento do ano em que nos submetemos ao delírio geral e coletivo. Nessa hora, por mais racionais que sejamos, somos todos um pouco esotéricos e também aficcionados na numerologia.
Afinal, “cremos” que deva ser possível transformar uma coisa em outra coisa melhor com a simples troca de números.
Como se o tempo - que não existe, e só existe porque nos o inventamos para dar sentido e demarcar nossas épocas - pudesse se reconstituir como destino na própria mudança numérica.
Nesse momento mágico, nosso otimismo e esperança são absolutamente cegos, mudos e surdos às circunstâncias atuais que nos cercam.
Circunstâncias cotidianas da vida real feita de desemprego, miséria, inveja, fome, mentiras, desestruturação do senso coletivo, assassinatos em massa, trânsito mortal e deseducação.
Longe daqui, mas perto de nossos corações e nossa solidariedade, o ano novo é “homenageado” com bombardeios “em nome de Deus”, entre judeus e palestinos. Ano e vida nova à intolerância étnica e religiosa!
Em 2009, exemplarmente, espero que todos possamos exercitar o espírito da tolerância e o exercício da moderação como formas de diminuir e evitar os fanatismos.
Que os idealistas (utópicos) e os realistas (equivocados) se façam suscetíveis a argumentação, reflexão e revisão de suas idéias e condutas, de modo a compatibilizar seus ideais com os alheios pensares e direitos.
Que a transformação de nossas crenças não seja retrato de muitas (antigas) experiências, mas, sim, reflexo de receptividade às novas idéias. Em 2009, espero que tenhamos mais humor, ironia e autocrítica!
Mas o exercício da tolerância e da moderação também têm seus custos. Não oferece garantias e exige prudência.
Moderação e tolerância se constituem em novas posições. É natural que gerem reações e efeitos contrários, nem sempre previsíveis.
De modo que minha esperança em relação a 2009 é que sejamos mais reagentes e atrevidos em torno e em defesa do que consideramos valores essenciais.
As inverdades e as injustiças estão por ai contaminando o tecido social. Mesmo quando não estivermos totalmente seguros de nossas ações, sejamos corajosos.
E enquanto não tivermos liberdade, atitude, ação e representação massiva e organizada, vamos fazendo a pequena “guerra” e a rebeldia local.
E se ao cabo das “guerrilhas” de 2009, ainda não alcançarmos e determinarmos um mundo melhor e mais justo, que seja ao menos mais decente!

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