17 julho 2009

A Morte Pede Carona

Crescemos estudando, lendo e ouvindo acerca de que o Brasil é o país do futuro. Privilegiado pela natureza, em que se plantando tudo dá, e habitado por um povo gentil e faceiro, não é a toa que atrai a atenção de todo o mundo.
Mas há algo errado nessas expectativas e no nosso ufanismo. Todas as notícias boas sobre nossa terra e nossa cordialidade não resistem a alguns números. Os números da morte!
O Brasil é o campeão mundial de homicídios. Só perdemos para a Colômbia, em conflito com guerrilheiros, e para El Salvador, que vive em estado de guerra civil.
Embora com 3% da população mundial, o Brasil concentra 13% dos homicídios mundiais. Anualmente, mais de 45 mil pessoas perdem a vida. Um brasileiro morre a cada 12 minutos!
O número de mortes por homicídios supera o de vítimas de acidentes de trânsito. Uma matemática trágica superada por outra maior!
Essa estatística macabra resulta da combinação de maus indicadores sociais e econômicos, desigualdade de renda, acesso fácil a armas de fogo, crescimento do narcotráfico, urbanização desordenada, desestruturação familiar e, principalmente, impunidade.
Claro que a criminalidade e a morte em números expressivos não ocorrem só no Brasil. Muitos outros países enfrentam esse problema.
A diferença é que enquanto outros países têm dois ou três fatores entre as razões para alta mortandade, nós reunimos quase todos os indicadores negativos.
Em meio a esse conjunto de fatores não podemos esquecer a questão da impunidade, o principal alimento da violência!
Segundo as estatísticas, apenas 1% dos homicídios é esclarecida pela polícia. A média nacional de aprisionamento de homicidas não chega a 10%, embora nossos presídios já estejam lotados.
Mais de 70% dos casos são arquivados por deficiência nas investigações policiais ou desqualificados nos julgamentos no judiciário.
Não bastassem as mortes, a impunidade e o estado de espírito neurótico e depressivo geral e instalado, a violência tem um custo financeiro astronômico.
Por ano, são bilhões de reais que se esvaem nos aparatos de segurança, no sistema judiciário e carcerário, na assistência médica e hospitalar. Toda a sociedade paga a conta!
Mas o maior prejuízo da nação diz respeito ao seu povo. Mais precisamente, a sua juventude. Refiro-me as gerações que nasceram e crescem sob o signo da violência.
Independentemente da opção e/ou destino pessoal, agente ou vítima da violência, a morte resultou vulgarizada.
Falhamos todos. Famílias, escolas e governos. Doloroso ver que continuamos nos comportando como se nada estivesse acontecendo.
As autoridades, principalmente, com seus sorrisos cínicos, números falsos e ufanismo demagógico. E a morte como carona!

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