03 julho 2009

Os Aristocratas

Quando políticos e funcionários públicos importantes, que representam as expectativas e esperanças do povo, fazem o que estão fazendo, de forma audaciosa, indistinta e indiferente às conseqüências, isso não se constitui apenas numa triste realidade, mas tem o dom de nos fazer ver e revelar o tamanho de nossa ignorância sobre a estrutura social e política.
Afinal, no dizer do presidente Lula, ao afirmar que Sarney não é um homem comum, e por conseqüência também ele, o próprio Lula (ato de defesa prévia e futura!), fica claro nosso sistema de castas, agora melhor entendido graças à novela global.
Então, está aí uma questão nacional mal resolvida: a diferença e a distância entre os que tem poder e as pessoas comuns.
Esses escândalos recentes, que na verdade não são novidade porque repetidos sempre e historicamente, são bons exemplos para compreendermos e “enxergarmos” o imenso vazio gerado e estabelecido pelo nosso sistema de formalidades, leis e instituições.
Embora com a promessa de resolver todos nossos problemas, os decretos, as leis, os governos e as ideologias apenas confirmam as práticas antigas.
Ou a arrogância dos políticos e das autoridades não é uma confirmação de um histórico sinal da separação entre o lado de lá e o de cá do balcão, como se diz popularmente?
Senão, como explicar outro histórico sintoma, agora agravado, que é a total perda de consciência da razão pela qual foram eleitos e constituídos parlamentares e servidores públicos?
É como se a rotina das práticas políticas e das formalidades legais, inerentes ao estado democrático de direito, tivessem o dom de corromper os bastidores do exercício do poder.
Como se a legitimidade e a popularidade construída nas ruas e nas urnas se corrompesse e travestisse num antigo aristocratismo.
Como se a investidura num cargo público concedesse ao investido a propriedade do cargo. Parece que se lhes “desce” um espírito da antiga nobreza que “por direito divino” se supunha superior à plebe!
Mas assim como no passado, por desonra e roubo, os nobres abusados perderam a legitimidade e a própria cabeça na forca e na guilhotina, assim também os “novos aristocratas” serão avaliados e condenados. Democrática e ainda que tardiamente!
Talvez agora, com a sucessão de escândalos e os roubos escancarados, e a defesa debochada da “turma do mensalão”, Sarney e Renan pelo Presidente Lula, as pessoas possam compreender melhor o que realmente significa “se lixar para a opinião pública”!

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