18 setembro 2009

Santos Dumont Envergonhado

Em dezembro de 1998, uma Corte Especial de Cassação, na Bélgica, julgou e condenou os 12 acusados do caso Agusta-Dassault.
Agusta-AW109 é um helicóptero. E Dassault é uma megacompanhia francesa com variados negócios, com destaque para a área aeroespacial.
O escândalo Agusta-Dassault se deu em torno da compra de helicópteros para o exército belga. Envolvidos num imenso processo de corrupção estavam importantes empresários, políticos e administradores públicos.
Entre os condenados estava o grande líder da indústria aeronáutica e militar francesa, Serge Dassault. Hoje, aos 84 anos, é presidente honorário da empresa e senador pelo partido conservador União por um Movimento Popular, o mesmo do presidente frances Nicolas Sarkozy.
Agora, esse mesmo senhor - repito, julgado, condenado e sentenciado pela justiça belga por corrupção ativa, foi condecorado pela Republica Federativa do Brasil, mais precisamente pelo presidente Lula.
“Monsieur” Dassault recebeu o título de Grande Oficial da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta honraria destinada a um estrangeiro!
Na mesma ocasião, foi anunciada a construção conjunta de 50 helicópteros de transporte, modelo francês. E de um submarino de propulsão nuclear e outros quatro convencionais. E a construção de um estaleiro e de uma base naval de apoio. Um negócio de R$24 bilhões!
Tão grave quanto essa condecoração, foi o anúncio afoito e inadequado do presidente Lula sobre sua preferência e decisão para a compra de 36 aviões de caça Rafale para a Força Aérea Brasileira, um negócio estimado em US$ 10 bilhões.
Feito o estrago diplomático, o Ministro da Defesa Nelson Jobim disse que a disputa continua aberta, com os modelos norte-americano (Boeing) e sueco (Saab).
Ao saberem do acordo e da declaração do presidente Lula, emissoras de TV e jornais franceses, a exemplo do Le Monde, La Tribune e o Les Eches e a TV pública France 2, destacaram o fim de um tabu - a dificuldade de vender no exterior.
"-Se as negociações forem concluídas, será o primeiro contrato de exportação do Rafale, que jamais foi vendido fora da França", afirmaram!
É tudo muito estranho, muito suspeito. Afinal, é uma concorrência bilionária e internacional. Mereceria mais cautela e transparência.
A questão de segurança nacional, bem como a proteção do pré-sal, argumentos avocados pelos governistas, é uma explicação medíocre.
É tão ruim quanto a justificativa de transferência de tecnologia. Afinal, dizem os especialistas, é uma tecnologia atualmente superada em mais de 10 anos. Ao final das construções, serão 20 anos de atraso tecnológico!
Estranho também é o silêncio do Congresso Nacional. Em apenas dois dias, e em regime de urgência, e votação simbólica (outro absurdo que sobrevive na nossa pobre república), foi aprovado o crédito de R$25 bilhões (submarinos e helicópteros).
Nem durante a ditadura militar houve tamanha omissão e falta de debate prévio. Embora possa se compreender a docilidade da base governamental e fraqueza da oposição, há compromissos com princípios de legalidade, economicidade, publicidade e moralidade.
Isso sem falar que já há definição da construtora Odebrecht para a construção do estaleiro dos submarinos. Será que o silêncio dos parlamentares, as votações rápidas, a liberação dos recursos, têm algo a ver com as eleições do ano que vem?
Tudo indica que o assunto já está encerrado. Vergonhosamente. Agora só falta, como dizem alguns bem informados, a provável celebração do anúncio no dia 23 de outubro.
Dia 23 de outubro registra os 103 anos do primeiro vôo do brasileiro Santos Dumont, o pai da aviação, com o seu 14 Bis, no campo de Bagatelle, na capital francesa. Santos Dumont não merecia essa!

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