09 maio 2012

Magia Mal Explicada

O poeta e dramaturgo alemão Berthold Brecht (1898-1956) já dizia que “melhor que roubar um banco, é fundar um!” Historicamente, bancos e agentes financeiros são malvistos e motivos de crítica popular. De modo que ninguém – ninguém mesmo! – sairá às ruas para defender bancos. A presidente Dilma “resolveu” mudar a história da nação e “exigiu” que os bancos reduzissem os juros. Oportunidade que todos os outros ex-presidentes também tiveram e não concretizaram. Inclusive, o seu mentor e guru Lula! Afinal, haverá algum líder político que não queira, ou que não quisesse, entrar nas páginas definitivas da história como o sujeito que libertou sua nação da escravatura financeira? Perdoem minha ironia, mas há doses de demagogia. Se os poderosos Banco Central, Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal são comandados pelo governo federal, porque não receberam ordem em contrário, desde sempre, oferecendo dinheiro mais barato para todos? Com certeza, os brasileiros abandonariam os “mafiosos” bancos privados e migrariam para os bancos estatais. Uma maravilha, não? Por que será que os dirigentes e acionistas de banco não oferecem cheque especial, cartão de crédito e empréstimos a taxas menores? Quais seus impedimentos? Será insensibilidade e ganância? Primeiramente, não existe magia em economia. Nem decreto, nem lei divina muda seus princípios de funcionamento. Se um grupo de pessoas atrasa suas prestações, ou o próprio governo tem dívidas astronômicas a financiar, os cidadãos pagarão por isso através de elevados tributos e financiamentos a taxas de juros mais elevadas. A presidente Dilma poderia ter sido mais franca e honesta na abordagem do assunto e na exposição de seus planos e motivos. Por exemplo, explicando se a redução da remuneração da poupança servirá para garantir que os bancos privados - após a redução dos juros – continuem capitalizados para comprar e vender lucrativamente os títulos públicos que garantem as novas dívidas do próprio governo e a rolagem das dívidas antigas? A ironia é que a modificação na caderneta de poupança prejudica a parcela mais humilde da população. E explicar porque essa dívida pública continua a crescer e por que o governo não reduz seus gastos, não controla suas despesas, não corrige seus erros e seus níveis de desperdícios e corrupção? Afinal, nisso está a origem e causa fundamental para a existência das elevadas taxas de juros ao consumidor, ora sob combate. Deveria demonstrar como se constitui o “negócio” dos bancos. Quais são suas obrigações com o governo (como os depósitos compulsórios), seus impostos, seus custos administrativos e de pessoal, níveis de inadimplência e sua margem de lucro. Seria uma conversa de país sério.

2 comentários:

Carlos Arruda disse...

Por Vladimir Safatle

Quando o governo resolveu, enfim, denunciar a “lógica perversa” que guia o sistema financeiro brasileiro, era de esperar que os consultores e economistas regiamente recompensados pelos bancos aparecessem para contemporizar. Como em uma peça de teatro na qual as máscaras acabam por cair, foi isto o que ocorreu.
Há algo de cômico em ver adeptos do livre mercado e da concorrência procurando argumentos para defender uma banca de oligopólio especializada em espoliar os brasileiros com “spreads” capazes de deixar qualquer banco mundial corado de vergonha.
Se os bancos brasileiros estão entre os que mais lucram no Universo, é porque nunca precisaram, de fato, viver em um sistema no qual o poder estatal impediria a extorsão institucionalizada à qual ainda estamos submetidos.
No mundo inteiro, o sistema bancário faz jus à frase do dramaturgo Bertolt Brecht: “O que é roubar um banco se você imaginar o que significa fundar um banco?”.
Nos últimos anos, vimos associações bancárias com comportamentos dignos da máfia, pois são especializadas em maquiar dados e balanços, criar fraudes, ajudar a evasão fiscal, operar em alto risco e passar a conta para a frente, além de corromper entes públicos.
Mas a maior astúcia do vício é travestir-se de virtude. Assim, o sistema financeiro criou a palavra “austeridade” a fim de designar o processo de assalto dos recursos públicos para pagamento de rombos bancários e “stock-options” de executivos criminosos, com a consequente descapitalização dos países mais frágeis.
Se não tivemos algo da mesma intensidade no Brasil, vemos agora um processo semelhante do ponto de vista retórico. Assim, os “spreads” bancários seriam o resultado indigesto do risco alto de inadimplência, já que a população brasileira teria o hábito pouco salutar de não pagar suas dívidas e se deixar endividar além da conta.
Neste sentido, os lucros bancários seriam (vejam só vocês) o remédio amargo, porém necessário, até que a população brasileira aprenda a viver com o que tem e assuma gastos de maneira responsável. O mais impressionante é encontrar pessoas que se acham capazes de nos fazer acreditar nessa piada de mau gosto.
A verdade é que quanto menos poder e margem de manobra o sistema financeiro tiver, melhor é a sociedade. Há sempre aqueles “consultores” que dirão: “É fácil falar mal dos bancos”, apresentando o espantalho do populismo. A estas pessoas devemos dizer: “Sim, é fácil. Ainda mais quando não se está na folha de pagamento de um”. Já sobre o “risco” do populismo, pobres são aqueles para os quais a defesa dos interesses econômicos da população sempre é sinal de irracionalidade.
* Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo, em 08/05/2012

Carlos Arruda disse...

Censurou meu comentário, né?
Esta é a liberdade de expressão que tu e seus semelhantes defendem?