16 maio 2012

Todos Nossos Cachoeiras

É fácil demonstrarmos nossa indignação com os escândalos que ocorrem física e politicamente longe de nós. Exemplo são os sucessivos episódios que confirmam Brasília como o núcleo do crime organizado nacional (não esqueçamos que sessenta por cento de todos os tributos nacionais arrecadados estão lá)! Mas quem não conhece em seu estado e seu município inúmeras figuras de riqueza de origem duvidosa e suspeita, sejam contraventores explícitos ou não, que transitam com pompa e relevância nos círculos oficiais e oficiosos do poder? Aliás, tão socialmente aceitos e benquistos que muitas vezes ocupam funções importantes nas organizações da comunidade. Percebe-se que o comunitário silêncio, inação, dissimulada indiferença e boa convivência são os aspectos mais visíveis de uma política de possíveis e oportunas conveniências futuras. Se a hipótese de conveniência recíproca vai se realizar ou não, na dúvida determina um comportamento de não críticas, mas de elogios; de não contrariedade, mas de favorecimentos. De algum modo, ditos benfeitores e favorecidos são especialistas em sobrevivência política e social, sobretudo quando investidos de alguma forma de poder. Que afeta a vaidade e a expectativa de manutenção e ampliação do poder. O núcleo central da devassidão sociopolítico incontrolada é o ego inflado, a vaidade e o doce fruto do poder, sob a regência do dinheiro. Até prova em contrário, necessário acrescer que todos de “boa índole e investidos das melhores intenções”. Afinal, pequenos desvios de conduta são inerentes à condição humana. Sem esquecer que, crentes confessos que sempre o são, sabem que seus deuses tudo perdoam. Não é mesmo? Até mesmo a nossa nem tão Santa Cruz do Sul demonstra sinais inequívocos de sucessivas e suspeitas iniciativas (e tentativas) de negócios entre as áreas pública e privada. Ou não é perceptível uma maliciosa conexão entre interesses privados e negócios públicos, e o acelerado e ampliado enriquecimento de uns e outros? Então, comércio de informações privilegiadas, tráfico de influência, licitações dirigidas e enriquecimentos e “financiamentos” de homens públicos, isso é coisa que existe em todos os lugares. Municípios e estados. Claro que Brasília é o “paraíso”. O éden do lucro fácil! Em alguns lugares, essas “relações e negócios” são como se fossem pequenos córregos, cheios daquelas pedras com limo e intransponíveis. Típicas áreas de treinamento para “marinheiros de primeira viagem e negociata”. Finalmente, a soma de todos nossos simbólicos córregos e (carlinhos) cachoeiras visíveis, é simplesmente como se fosse a ponta de um iceberg que esconde sua maior parte sob as águas escuras dos núcleos de poder, mas que rasga contínua e cruelmente a frágil auto-estima do povo brasileiro como se fosse o casco de um reles Titanic.

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