03 outubro 2012

Fazedores de Promessas

Eleições. Mais uma em nossas vidas. E o que elas têm em comum? Renovam-se as promessas e os grandes planos de solução dos habituais problemas. Em qualquer esfera de poder, campanhas eleitorais e novos governos sempre são muito criativos. Criativos até demais! São planos de ação, programas e projetos, antecipadamente dito extraordinários. Infelizmente, muito raramente realizam-se. Aliás, é de nossa (péssima) tradição legar aos sucessores e cidadãos as meias-soluções e obras incompletas. Dito de outro modo: problemas por inteiro. O que, invariavelmente, resulta em descrédito pessoal e desperdício de recursos humanos e financeiros, déficit público e inflação. O mais surpreendente é a repetida e inesgotável capacidade dos candidatos e governantes retornarem à cena pública para prescrever os “novos” remédios e as criativas soluções. Porém, há algo mais incrível: nós acreditamos! Trata-se de uma inevitável analogia com o mundo místico, com o universo mágico e com o sistema de crenças. A regra-geral do sistema de crenças consiste em que o fracasso acaba por reforçar a credibilidade, à medida que o erro se deve a um desempenho incompleto ou equivocado na aplicação dos meios, ou, vulgarmente, dos ingredientes da receita. É o que ocorre nos rituais e crenças em geral, onde magos, feiticeiros e assemelhados, diante do resultado não esperado, atribuem a falha não a crença em si, mas aos meios utilizados, que tanto pode ser uma reza mal-feita, um ciclo lunar indevido, sacrifícios não cumpridos, ervas velhas e mal-cheirosas. Repito, surpreendentemente nós continuamos acreditando! Porém, tudo isso não desfaz nossas esperanças, sem as quais nos tornaríamos intolerantes e implacáveis com as formas de poder de estado e poder privado, sobretudo aquelas que usurpam e manipulam (e legislam) na manutenção de seus feudos medievais, onerando os cofres públicos e os bolsos do povo. Em nome desta esperança, almejamos que os fazedores de promessas façam sua reciclagem, começando pelo próprio ego - por natureza "inflado", e renunciem à repetida e sedutora tentação de reinventar a roda. Limitem-se ao exercício da humildade e do possível. É isso. É aqui que reside o diferencial da receita mágica e da promessa viável: a medida do possível. E a medida do possível encontra-se nas ruas, nas filas do desemprego e dos supermercados, na face e na voz do povo. Mas importa ouvir!

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