14 novembro 2012

OS "REIS DO PUXADINHO"

É histórica (e quase unânime) a compreensão de que a antecedência do Estado - antes que surgisse uma sociedade brasileira – é fator responsável por muitos males que atrasam nosso desenvolvimento sócio-econômico. Os reflexos negativos da conseqüente adaptação e submissão da sociedade ao estado. E entre estes males, a questão da reiterada descontinuidade administrativa, presente em todos os níveis da administração pública. Objetivamente, sucede que à posse de cada novo governante recai sobre nosso povo uma avalanche de idéias e ações que se pretendem reformadoras, quando não “revolucionárias” (sic). Os (novos) governantes acreditam que estão predestinados a fazer “a reforma das reformas” no aparelho estatal. E assim estamos permanentemente “reformando o estado”. Por quê? Porque tudo que o outro (governante) legou, não presta. É um estigma. Uma maldição. Invariavelmente, o resultado de cada intervenção tem um subproduto pior. Primeiramente, porque pessoas e necessidades públicas que deveriam ser o objeto principal da ação do estado (e sua anunciada reforma) são sempre e novamente relegadas ao segundo plano. Reiteradamente são favorecidos setores e classes já abonadas e, obviamente, onerada toda a população nas crescentes taxas de espoliação tributaria. Sistematicamente falhamos no planejamento. Nossas políticas públicas não resistem ao tempo e as sucessões político-partidário-administrativas. Boas intenções e retóricos planos não se confirmam na prática e na contabilidade final. Desculpas nunca faltam. Obstáculos político-partidários, gargalos institucionais, excessos burocráticos, incapacidade financeira e insuficiência técnica de gestão, entre outros. Resultado final: frustrações, perda de tempo e desperdício de dinheiro público. A frustração popular também resta agravada porque sempre se dissera que o esmero e o extremo da prática democrática provocariam o desenvolvimento e as superações. Não é verdade. Agora, bem sabemos que a prática da democracia não ocasiona por si só o desenvolvimento almejado e a qualidade necessária. Ainda que possamos registrar melhorias nos níveis de erradicação da pobreza e elevação dos níveis de consumo popular, ainda vigem e pairam sobre nós as centenárias práticas do patrimonialismo, do feudalismo, do clientelismo, do mandonismo e do personalismo. Há uma lista interminável de outros “ismos”. A não superação desses “pecados capitais” é a causa fundamental da não continuidade administrativa e do não êxito de todas as reformas intentadas e tentadas. Somos os “reis do puxadinho”!

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