07 novembro 2012

Uma Questão de Princípios(ainda o mensalão)

O anarquista e pensador político russo Mikhail Bakunin (1814-1876) foi profético: "(...) chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo (...) se faz por uma minoria privilegiada (...) tão logo se tornem governantes (...) não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana”. Antes de sua expulsão do PT (2003), a senadora alagoana Heloisa Helena também foi visionária: “(...) considerava que o nosso Governo teria a obrigação de mostrar ao País o que dizíamos que eram os crimes contra a Administração Pública, o tráfico de influência, a intermediação de interesses privados...” Nunca tive dúvidas sobre a dimensão e o significado do escândalo do “mensalão”. Em 2005, escrevi e publiquei dois artigos sob o título “Renuncie, presidente!”, apesar de pessoal e convictamente haver votado quatro vezes em Lula. Seria ousadia, absurdo e impertinência pedir a renúncia do presidente da república? Acredito que não. Pelo conjunto do que foi filmado, dito, testemunhado, investigado e apurado, somado a comprovável e repetida retórica e vocação petista para hegemonia (observe as queixas de seus parceiros eleitorais!), não restava dúvida quanto ao evidente atentado ao sistema democrático, à expensa do dinheiro público desviado ardilosamente via negócios fraudulentos. Entretanto, nem Lula se considerou pessoal e politicamente responsável. A rigor uma hipótese desmentida na sua própria entrevista e pedido de desculpas em Paris. E nem a oposição foi competente e capaz de acusá-lo e promover o processo de “impeachment”. Talvez a oposição nem quisesse. O PSDB, principalmente, escaldado pelo risco do “rabo preso do mensalinho mineiro”. Onde, dizem, que tudo começou! À época também havia a preocupação com a governabilidade. Afinal, já tínhamos passado pela desagradável experiência da cassação do presidente Collor (1992). Aliás, financeira e judicialmente comparado com o “mensalão”, o caso Collor é “de pequenas causas”. Também não justifica a omissão tocante a responsabilização do presidente Lula o fato de ter tido expressiva votação e reeleição. Ou por ter sido um bom e popular presidente, segundo alguns. A reverência pessoal e os supostos temores socioeconômicos não deveriam ser argüidos para deixar de combater e refutar o ataque sofrido pelo sistema democrático, aos princípios republicanos e ritos constitucionais. Pertinentemente, quando é desencadeado um processo de responsabilização e possível “impeachment presidencial” não se está apenas questionando o governante e seu partido, mas, essencialmente, se está tratando de preservar os valores éticos e sociais que devem nortear e garantir a república. É uma questão de princípios.

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