14 maio 2007

d'O Jeitinho Que o Povo Gosta

Das aulas sobre história brasileira, deveríamos ter aprendido com mais atenção àquela que diz respeito ao fato de que o Estado foi criado antes da constituição de uma sociedade civil.

Relembrando, à época da colonização, não houve resistência local ao modelo e projeto do estado português. Depois do fracasso das capitanias hereditárias, o governo português inventou os governadores-gerais. E com eles, a burocracia.

Há registros históricos sobre o desembarque de nobres, funcionários públicos, soldados e criminosos (réus e degredados). Aliás, quase todos solteiros e interessados em grana fácil. Não houve a imigração de famílias, ou por motivação religiosa, como na América do Norte.

Pois, resultou uma estrutura estatal forte, organizada, centralizadora e burocrática. Que não encontrou resistência civil. Conseqüentemente, nossa incipiente sociedade de então se adaptou a esta estrutura estatal.

Segundo o ilustre gaúcho de Vacaria, advogado e historiador Raimundo Faoro (1925-2003), a responsabilidade pelo nosso subdesenvolvimento é do aparelhamento burocrático, herdeiro da administração colonial portuguesa.

Trata-se do domínio de uma casta de altos funcionários aliada ao patronato político cujos interesses comuns formam uma associação parasitária.

Juntos compõem uma rede que, espalhada pelo país, extrai dele tudo o que pode (leia Os Donos do Poder, 1958). Repito, a sociedade submissa se adapta!

Consequentemente, o fruto principal dessa deformação histórica e dessa adaptação social é o “jeitinho brasileiro”.

Com o passar do tempo, lei e ordem passaram a significar pouco, ou quase nada, em nosso comportamento social. Fraudes, falsificações, desrespeito a contratos, entre outros exemplos, são atitudes que não sofrem imputação ou reprovação moral.

Assim, não surpreendem a corrupção disseminada e os sucessivos escândalos políticos e comerciais. Não faltam notícias e episódios diários que relacionam a conduta do brasileiro ao famoso estigma de “querer levar vantagem em tudo”.

Seguidamente, repercute o expressivo número de fraudes relacionadas à distribuição e utilização do Programa Bolsa Família. Valores insignificantes. Mas não o suficiente para inibir a tentação e o oportunismo.

Inúmeras dessas fraudes são praticadas por autoridades, a exemplo de vereadores, lideranças políticas, funcionários municipais, em conluio com pessoas do povo e da própria comunidade.

Esses delitos comportamentais, ainda que de menor valor ou conseqüência social, não deixam de traduzir uma índole suspeita. Uma carência de perspectiva ética balizadora.

Em verdade, estamos a merecer, como povo e sociedade, um apurado estudo de caráter sociológico/psicológico, de modo a revelar, ou complementar, teorias sobre o caráter do povo, sobre a natureza (a)ética do brasileiro.

Auto-contestação: ou então, não é nada disto acima descrito, e sim, simplesmente, falta de educação, repressão, punição e cadeia!

De qualquer modo, possível e infelizmente, estudos e atitudes que nos levarão a desagradáveis constatações e conclusões.

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