21 dezembro 2009

Merda

Outro dia, o presidente Lula estava em São Luís do Maranhão e disse o seguinte: “Eu quero saber se o povo está na merda, e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra.”
Sobre a nunca dantes, exagerada, contínua e inesgotável auto-exaltação de Lula, já não cabe mais comentários. E muito menos sobre seu vocabulário!
Querer enquadrar comportalmente o presidente Lula é um caso perdido. Ele está possuído. Embriagado pelo poder ilimitado e reverencial.
Outros presidentes também cometeram falas impróprias. À conta da emoção e da empolgação. Em alguns casos, à conta da própria ignorância!
Claro que alguém poderia lhe explicar o que representa a palavra de um Presidente. Que a função pública tem ônus que se impõem para além da pessoa e da própria fala.
Perda de tempo, com certeza. Não adianta explicar isso pro Lula. Ele realmente acredita que tudo pode e que (re) inventou o Brasil!
Nessa “enxurrada verborrágica”, o que mais impressiona é o tamanho do cordão dos puxa-sacos que imediatamente têm explicações sociológicas, políticas e marqueteiras, em qualquer circunstância.
Como não há autocrítica, nem bom senso, às bobagens do dia seguem-se as dos assessores ensimesmados, embriagados de poder, vaidade e cegueira.
Sabemos que o poder (e suas vantagens!) favorece esse tipo de reação. Felipe Gonzalez, ex-primeiro-ministro da Espanha, disse certa vez:
“Raras vezes as coisas ocorrem pela primeira vez, ainda que assim seja a experiência pessoal de muitas pessoas. Por isso há tantos governos “adãonistas”, que crêem que tudo o que fazem, ou o que lhes passa, é a primeira vez que ocorre. Isso os leva a pensar que estão criando sempre, ex-novo, que estão reinventando a “república”, até que caia em cima deles o peso da história, com suas constantes sociais e seu próprio ritmo, com suas idas e vindas inevitáveis".
Bem, é natal, é ano-novo. Sejamos misericordiosos e tolerantes. E vamos ser justos com o Lula, pelo menos nesse caso: nunca se falou tanta merda no Brasil!
Principalmente, em Brasília. Explicações para apoio político para ladrões, mesadas, mensalinhos e mensalões, dinheiro nas cuecas, nas meias e para o panetone dos pobres!
E sabe por que devemos perdoar? Porque você, assim como eu, já usou a expressão “merda” como substantivo, adjetivo, interjeição, comparação, metáfora, e/ou outra expressão gramática qualquer.
Por exemplo, como destinação geográfica, querendo saber onde fica determinado lugar: “Onde fica essa merda?” Ou quando “encheu o saco” de um lugar, de uma festa, de uma reunião: “Vou embora dessa merda!”
Irritado com alguém, invés mandar para o inferno, radicaliza: “Vá à merda!” Ou, ao indagar aquele profissional pelo serviço mal feito: “Fez merda, né?”
Na estrada, de carro, no meio do temporal e chuva forte, para definir uma situação visual: “Não se enxerga merda nenhuma!”
No trabalho, quantificando, quando o chefe não vê seu desempenho: “Trabalho prá caramba e não ganho merda nenhuma!” Na reunião social, impressionado com a atitude do outro: “O que esse merda pensa que é?”
E, finalmente, logo depois do natal, agora semana que vem, ressentido, dirá: “Não ganhei merda nenhuma de presente!”

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