05 março 2011

Andressa

Ônibus lotado. Ao meu lado, mãe e filha no mesmo banco. Grávida, a jovem senhora não podia dar colo para a filha.
Percebendo a inquietação e o desconforto de ambas, delicada e cuidadosamente ofereci meu colo para a menina. Três aninhos.
Prontamente aceito e com anuência da mãe, a sorridente Andressa “puxa” papo comigo e diz, com orgulho e faceirice, saber todas as músicas dos Mamonas Assassinas.
E, sob o olhar meio sem jeito da mãe, que não cansava de se desculpar comigo, a menina passa a cantar em alta voz “Brasília Amarela, Vira-Vira, Robocop Gay, Uma Arlinda Mulher” e, vejam só!, “Pelados em Santos!”
Os Mamonas Assassinas era uma banda brasileira de músicas e letras cômicas, influenciada por gêneros populares. Misturava tudo. Rock, heavy metal, pagode, forró, sertanejo e até mesmos ritmos de música portuguesa.
A alegria contagiante, a irreverência, a malícia, a sacanagem sem culpa, explodiram, nacionalmente, na voz dos Mamonas, transformando-se em fenômeno sem antecedentes.
A banda era profundamente questionada pelos críticos musicais. E pelos moralistas “de cuecas”. Mas os críticos “falavam sozinhos”. Ninguém dava bola para seus comentários.
Afinal, não interessava o valor musical, não importavam os plantonistas do pudor nacional, nem o mau humor dos de sempre.
Todos os fãs dos Mamonas, assim como eu, ficávamos com a alegria, com o lúdico. Como diz(ia) Gonzaguinha: “Eu fico com a resposta das crianças. É a vida. É a vida!”
Essa viagem de ônibus foi num sábado à tarde, mais precisamente no dia 2 de março de 1996. Na mesma noite, os Mamonas Assassinas morreriam em acidente aéreo.
Essa semana, quarta-feira, dia 2, fez quinze anos que morreram os Mamonas Assassinas. Teve vida curta a banda. Mais precisamente, durou entre julho de 1995 e março de 1996. Tudo acabou naquela madrugada de sábado!
Aquele domingo foi de luto nacional. Passei aquele domingo pensando em Andressa. Na tristeza de Andressa. Também chorei pelos Mamonas. Mas chorei muito mais por Andressa!

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