24 julho 2007

Anatomia do Erro

Foi uma semana catastrófica para toda a nação brasileira. Nada mais há para se dizer. Ou melhor, tudo mais há para se acrescentar. Porém, faltam verbos, substantivos e adjetivos em língua portuguesa para a descrição de todos os acontecimentos.

Mas não são só os fatos que se sucedem e que conspiram amarga e sombriamente sobre nosso presente/futuro que carecem de conceituações. Também faltam palavras para qualificar os gestos, as ações e as interpretações que se sucedem e que tentam explicar, justificar, amenizar e contemporizar os mesmos fatos.

Estes atos sucedâneos incorporam-se aos fatos originais e somados transcendem o conjunto anárquico e kafkiano que nos assombra.

Nenhum governo é infalível. Nenhuma pessoa é perfeita. E nem mesmo espera-se a solução de todos os problemas de parte de uma só pessoa, ou de um só governo. Objetivamente, espera-se um mínimo de coerência, dignidade, autocrítica e vergonha.

Hoje não vou me referir ao presidente Lula e seus aloprados amestrados (ou já me referi?), empenhados em bater todos os recordes em falas impróprias e gafes, contagiados pelas medalhas do Pan.

Proponho, pois, uma parada reflexiva sobre a natureza e anatomia do erro. Cataloguei algumas frases célebres. Ou lições, como quiserem.

Errar é humano”, já dizia Sêneca (filósofo romano, 4ac-65dc), carimbando seu nome nas enciclopédias. Explica, mas não justifica uma das mais marcantes características da pessoa: não aprender com o próprio erro.

O oráculo chinês Confúcio (551ac-479ac) afirmou que “um homem que comete um erro e não o corrige, está cometendo outro erro.”.

Mais ou menos parecido com o que disse Cícero, filósofo romano (106ac-43ac): “Qualquer pessoa pode errar, mas só os tolos persistem no erro.”.

Então, está combinado. Podemos errar, mas repetir o erro é uma tolice. Mas, e ao esconder, ou negar o erro, como ficamos?

Um anônimo ditado já dizia: “Muita gente aprenderia com seus erros se não estivesse tão ocupada negando que os cometeu.”.

Mas, e sobre a segunda chance, a oportunidade de não fazer, deixar de errar, corrigir, ou fazer de modo diferente?

Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil (1902-1976), disse: “Volto atrás, sim. Com o erro não há compromisso”.

Já o grande ator italiano Vitório Gassman (1922-2000) queria o direito ao treino: “O único erro de Deus foi não ter dado duas vidas ao ser humano: uma para ensaiar, outra para atuar.”.

Mas quem paga pelos erros?

“Os erros têm um custo e alguém deve pagar por eles. O momento certo de se corrigir um erro é antes de cometê-lo. As causas dos erros são: primeiro, eu não sabia; segundo, não pensei; terceiro não me importei!”, palavras do jurista inglês Henry Buckley (1845-1935), com certeza, influenciado pelos julgamentos judiciais.

Mas o escritor norte-americano Edward Dahlberg (1900-1977), estava preocupado com a diferença entre erros e acertos: “Quem neste mundo tem crédito suficiente para pagar por seus erros?”.

Resumindo didaticamente e parafraseando um ditado anônimo: “Aprendamos com os erros dos outros. Não viveremos mesmo o tempo suficiente para cometer todos os erros possíveis.”.

Antes de encerrar, outro assunto (ou o mesmo assunto?!): não consigo pensar em outra coisa senão naquela cerimônia de entrega da Medalha Mérito Santos-Dummont. Dia 20 de julho, três dias depois do acidente em Congonhas. Prédio ainda em chamas, corpos em resgate, famílias em pranto e luto.

Quem são essas pessoas que participaram, entregaram e receberam a Medalha do Mérito? O que fazem, o que pensam, como são suas famílias, seus filhos, seus amigos, seus sentimentos, seus conceitos de dignidade, vergonha, honra, mérito, solidariedade e oportunidade? O que lhes representa uma medalha no peito ou um ato de outorga?

Com o perdão do meu juízo insinuado e antecipado, mas eu acho que ali, naquela cerimônia, naquele momento especial, pode estar a explicação central, filosófica, ética e moral acerca do que se passa com todos nós, povo e autoridades!

Para mim, mais difícil do que encontrar as palavras para descrever aquela cerimônia, é identificar a natureza dos sentimentos humanos ali presentes!

Nenhum comentário: