10 julho 2007

A Bomba-Relógio

Somos os campeões mundiais em número de homicídios. 45 mil pessoas perdem a vida a cada ano. Metade dos assassinatos é cometida por cidadãos sem antecedentes. Embora tenhamos apenas 3% da população mundial, realizamos 13% dos homicídios.

Uma síntese e conseqüência trágica da combinação de problemas e desigualdades econômicas e sociais. Desintegração familiar, desigualdade de renda e trabalho, desemprego, urbanização desordenada, narcotráfico. Crimes em larga escala. Regra geral: a impunidade.

A maioria das cidades brasileiras tem em comum a desigualdade crescente. As evidências principais são a segregação sócio-espacial e a concentração da riqueza e da renda.

A segregação sócio-espacial afeta a maioria da população e é percebida nas questões relativas à moradia, ao saneamento, ao emprego e ao transporte público.

Os números não mentem. Dez milhões de famílias moram em áreas sem infra-estrutura urbana e de saneamento. Oitenta e três milhões de pessoas não são atendidos com pelo menos um destes serviços públicos: água, esgoto, coleta de lixo e energia elétrica.

Este número tem conexão com os números relativos aos jovens. Trinta milhões têm entre 15 e 24 anos e vivem no meio urbano. Dezessete milhões não estudam.

A desigualdade de riqueza e renda atinge a maioria dos jovens. Quatro milhões de jovens vivem em famílias com renda per capita de até ¼ (um quarto) do salário mínimo. Metade dos desempregados brasileiros são estes jovens.

A decorrência real e prática deste conjunto estatístico, de parte do jovem, é uma sensação de impotência, uma descrença na família e na sociedade.

Descrença no esforço coletivo, na comunidade e nas autoridades, desrespeito às normas e às regras de convivência. Todos sintomas visíveis de um monstrengo em gestação.

A violência nos grandes centros urbanos tem os jovens como maioria das vítimas e/ou agressores. Diariamente, o noticiário policial informa vários casos de envolvimento de jovens em crimes, principalmente de ataques à pessoas, constando casos de espancamentos seguidos de morte das vítimas.

Fica evidenciada que toda esta violência é, basicamente, conseqüência de uma grave crise de valores e uma absoluta falta de perspectivas pessoais.

Trata-se de uma geração que nasceu e cresceu sob o signo da violência. Sem alternativas e sem medo, e não encontrando soluções para seus problemas, inventa soluções radicais e anti-sociais.

Relógio ou não, toda bomba tem um tempo, tem um dispositivo que permite seu desligamento. Porém, desconfio que esta tenha os dispositivos emperrados.

Aliás, qual a distância segura de uma bomba? Pelas estatísticas policiais, pelos condomínios fechados, as cercas aramadas e elétricas, a quantidade de guardas e seguranças particulares, suponho que a distância já não mais exista!

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