Mesmo ouvindo esta bobagem, juntamente com as periódicas asneiras oficiais, ainda assim eu me esforço para manter aquele desejo. Mas não dá. Não há jeito. É uma sucessão de abusos e deboches.
Vamos, pois, para um assunto até agora pouco comentado e esclarecido do ponto de vista financeiro e do gasto público: os Jogos Pan-americanos (anote: será o “senhor” assunto logo após os jogos).
Há cinco anos, a União, o Estado e o município do Rio de Janeiro afirmaram que gastariam R$ 409 milhões (atualizados) na organização do Pan. Hoje, a conta alcança R$3,2 bilhões. Um custo 682% maior que o previsto em 2002.
O dinheiro desembolsado pelo governo federal, inicialmente previsto em R$ 138 milhões, chega a R$ 1,5 bilhão. Um aumento de 10 vezes (986%).
A participação da Prefeitura do Rio saltou de R$239 milhões para R$1,2 bilhão (404% a mais). Relativa e percentualmente, o maior estouro será do Estado do Rio: de R$32 milhões para R$ 500 milhões (1.513%).
O Pan do Rio custará 12 vezes mais que qualquer outra edição dos jogos. "Somados os quatro últimos Pan’s não dão o que está dando esse. É triste (...) a gente sabia que isso ia acontecer”, afirmou Juca Kfouri, comentarista esportivo.
Entre os absurdos está a construção de um novo estádio - o João Havelange, conhecido como Engenhão. Em janeiro de 2003, o Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro informou que o estádio custaria R$60 milhões (R$75 milhões, atualizados). O custo já está em R$380 milhões.
Temendo um eventual fracasso do Pan - negativo para a imagem brasileira, o governo federal virou refém dos organizadores e do "fato consumado".
Apesar dos pesares, os governos defendem que os investimentos públicos na competição se justificam pelos benefícios à cidade do Rio de Janeiro.
Historicamente, os investimentos realizados pelas cidades-sedes de grandes eventos esportivos revertem em favor da população, seja através de utilização das estruturas remanescentes, de melhorias de infra-estrutura urbana, ou de incremento da qualidade de vida e dos negócios.
Porém, e infelizmente, no caso do Rio, as melhorias ambientais e nos transportes, prometidas como legado, ficaram no papel.
Recordando: da Barra da Tijuca sairia uma nova linha de barca até o centro, uma linha de metrô e um bonde até o aeroporto. A via expressa que liga o bairro à zona sul seria duplicada. Cinco lagoas da região seriam despoluídas. Nada feito! Balela!
Menos mal que o Tribunal de Contas da União (TCU) já está de olho. Em relatório, aponta algumas razões – criminosas, acrescento eu – para o superdimensionamento e atrasos nas obras e o aumento desmedido dos gastos.
Segundo o TCU, já são 2 bilhões de gastos da União. Não há um plano de metas. Muitos projetos nem sequer tinham prazo para seu término. Conclusão: devido à sucessão de atrasos e imprevistos, os serviços passaram a ser contratados às pressas, sem licitação. Esse filme nos já vimos!
Gente, estamos falando de muito, muito dinheiro. A base de R$40.000,00 a unidade, significa 80.000 automóveis zero dos bons. Ou 80.000 casas populares das boas! 80.000 casas!
Lula defendeu os gastos públicos com a competição: "Temos que defender o nome do país, ou seja, se algum deles [Estado ou Município] tiver algum problema, o governo federal tem que entrar [com dinheiro] porque quando foram abertos os Jogos o que vai ficar é a imagem do Brasil".
Mas a “pérola” maior na fala presidencial foi: “o Tribunal de Contas pode investigar depois se houve excessos!”(grifo meu).
Ah, bom! Menos mal. Vai descobrir todos os abusos, identificar os responsáveis e recuperar o dinheiro desviado. Ainda bem!
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