27 março 2007

Deboche e Fingimento

Vocês viram? Aumento de 26,49% para deputados, ministros, presidente, vice-presidente! Vai respingar também no bolso dos deputados estaduais (sim, elles tem uma lei que garante ¾ do salário dos deputados federais). Ah, e ainda tem todo o Poder Judiciário - federal e estadual. Também quer seu pedaço do filé mignon!

Pior é o fingimento, o deboche. A conversa começou com 92%, lá por novembro e dezembro. É o bode na sala. Depois vão recuando, recuando, e fica por 26,49%. Podiam ter arredondado para 27%, né?

Aí você reclama e elles falam dos seus direitos, que está na lei, etecétera e tal. Este papo de direito é conversa para enrolar o povo.

Direitos transformados em instrumentos de benefícios privados não são direitos. Direitos que não se estendem à população. Privilégios é o que são!

Pergunte para qualquer aposentado sobre quantos salários ele contribuiu e o que realmente está ganhando, atualmente. Aí não existe lei, nem direito adquirido. Só existe para elles.

Estes “Poderes de Estado” constituem-se, hoje, em ilhas de privilégios. Oligarguias modernas! O Estado brasileiro foi “capturado” e o povo “escravizado”. Está sob controle político e econômico de elites corporativas.

Brasília é uma festa só! Não sei o que o pessoal enxerga em Nova York, Berlim, Tóquio. Lugar nenhum chega aos pés de Brasília. É o paraíso na terra. É tudo gente sem pecado. Vão direto pro céu. Para o paraíso. Nem param no portão de São Pedro (agora vem o Papa e elles estarão na primeira fila!).

Omissão por omissão, pior é aquele metalúrgico famoso. Lembra? Que se fez na vida contestando o sistema, os ricos, os usineiros (agora os seus novos heróis nacionais! Teus não! Heróis delle, do Lulla).

Todo seu discurso, objeto de sua carreira, ascensão e glória (pessoal) foi para o ralo. Bem, a gente compreende. É tudo passado. O que importa é o futuro. Não o seu. Não o do povo. O futuro delles.

Mas no fundo a culpa de tudo isto é nossa. Desde sempre, reclamamos da política e dos políticos. Deve ser porque sempre prometeram mundos e fundos. Deve ser também porque sempre acreditamos nas promessas. Ou fazíamos de conta que acreditávamos. E de tanto fazer de conta já não sabemos mais se acreditamos ou não.

O mais grave é que os próprios políticos também já não sabem mais o que fazem e qual é seu real papel. O jogo político, a promessa não cumprida, o faz-de-conta nos jornais e na TV, tudo se transformou num grande jogo e encenação.

Políticos e eleitores, governantes e cidadãos, ninguém mais sabe se é espectador ou ator. Fazer e/ou deixar de fazer, cumprir e/ou não cumprir, fiscalizar e/ou não fiscalizar, agir e/ou omitir-se, fingir e/ou não fingir que faz, cumpre e fiscaliza, que diferença faz para o político e a política se a sociedade conjuga os mesmos verbos no mesmo tempo? Então, resumindo, o negócio (delles) é aproveitar a festa. Você não foi convidado!

A verdade é que nós perdemos a noção/a razão de que deve haver sempre uma relação entre os fins e os meios. Estamos nos tornando cínicos. Comportamos-nos como condenados a aceitar determinado jogo e realidade porque não podemos mudá-la. Pior: sabemos que isto está errado e que não deve/deveria ser assim.

A realidade deixou de ser um desafio e virou um destino. Sociedade e política vivem o auto-engano. O alimento do auto-engano é o círculo vicioso.

Em sua segunda campanha presidencial, em 1919, Rui Barbosa já dizia: “consideram o nosso país e o nosso povo como um país de resignação ilimitada e eterna indiferença, povoado por uma ralé (...), concebidos e gerados para a obediência".

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