12 março 2007

O Inferno é Logo Ali, Depois da Curva

(sobre juventude, desigualdade e desemprego)

A adolescência e juventude são períodos no qual a convivência pública toma o lugar, ainda que não totalmente, das relações familiares. São os novos grupos de relacionamento. Período novo de experiências e descobertas. Além de ampliar as perspectivas pessoais, trata-se, essencialmente, da constituição do sujeito e sua aceitação social.

Entretanto, não o que estamos vendo. Um número cada vez maior de jovens promove um estreitamento de suas relações e dos espaços passíveis de ocupação e circulação. Inclusive, os mais frágeis e suscetíveis à competição e à violência desenvolvem novas formas de isolamento, gerando preocupações clínicas aos pais.

Na verdade, trata-se de uma resposta racional e biológica ao “mundo” herdado, “um mundo” decadente, “um mundo” onde não é (mais) possível viver (mais). Objetivamente, trata-se de um processo de isolamento e defesa dos privilégios que os outros invejam e gostariam de (ob)ter, por bem ou por mal.

Qual a explicação? Pesquisas confirmam o que já sabíamos no dia-a-dia, nas notícias de jornal, nas filas do desemprego, etc..., isto é, a dificuldade de ascensão social, de mobilidade social. A mobilidade social – ascender(subir) de uma classe social para outra de nível superior – está diretamente associada à questão educacional e ao (des)emprego. Resumo: a desigualdade é a marca da sociedade brasileira.

O quadro é perturbador porque está diretamente associado à incerteza que recai sobre o futuro da juventude. O desemprego provoca o que os cientistas sociais chama de “transversalidade”: a experiência com a polícia/trabalho/desemprego.

Somos uma sociedade doente. Criminalidade, violência e desorganização social são as evidências. Proliferam novas formas de dominação, há um crescimento dos sentimentos de medo e insegurança, há o estímulo de uma “cultura do excesso”, etc... Fatores que afetam negativamente a organização social e comprometem a comunidade. Reina e governa a tensão.

Alimentamos conflitos e discriminações assentadas em classes sociais, em questões de gênero, raciais, religiosas, tocante à opção sexual, ao estilo, às idéias regionais, ao comportamento. Já discriminamos as pessoas, inclusive, face ao seu local de moradia.

Somos uma sociedade hipócrita. Muito competitiva e não solidária. Não é a toa que crescem certas seitas e religiões que oferecem aos jovens uma nova ideologia, uma espiritualidade, uma identidade, uma opção de inclusão social.

Se não é o inferno, o que será?

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