07 novembro 2006

A crise e a (des) função do trabalho
(para uma reflexão e visão crítica das redes de proteção social)

O desesperançoso é que não têm utilidade para o sistema capitalista, nem para os defensores do socialismo.

Social, psicológica e historicamente, o trabalho é reconhecido como um elemento fundamental no processo de afirmação do ser humano. Sua relação com a vida e a sobrevivência vai muito além da questão da produção de bens e renda. A ocupação produtiva do indivíduo está diretamente relacionada a idéia de dar um sentido a própria existência.
Neste sentido, vivemos uma época de profunda contradição e depressão existencial, haja vista as alterações dos processos produtivos, das relações de comércio interno e externo, todas com graves repercussões no quadro das atividades laborais e de emprego.
Em contrapartida, crescem as redes de proteção social, oficiais e comunitárias. Governos e entidades assistenciais criam e apresentam os diversos programas de ajuda. A palavras chave são “bolsa, vale, programa, etc...”, a exemplo da bolsa alimentação, o vale-transporte, o vale-gás, a bolsa-escola, o programa de renda mínima, merenda e transporte escolar, entre outros, em todas as esferas da organização social e estatal. São formas indiretas de proteção e aumento da renda familiar.
Objetivamente, é tudo consequência de um processo de marginalização capitalista, sistema que vive uma crise de criatividade em sua capacidade de incorporação da força de trabalho. Consequentemente, milhares de famílias passam a viver e depender das redes de proteção social.
O que pode parecer como uma espécie de socialização forçada de benefícios, no pensar de outros parece um inquietante processo de (des) educação para o ócio, ou deseducação para o trabalho.
Ressalvado tratar-se de um ócio forçado, todos estes benefícios permitem às pessoas (sobre)viverem, claro que sem qualidade de vida, precária e resignadamente, e pior, por extensão, sem ver no trabalho uma necessidade.
As vítimas deste processo de exclusão e inutilização humana são, obviamente, os menos formal e profissionalmente educados e preparados para o trabalho. Este despreparo é gravíssimo por que impede/incapacita a mobilização destas massas populares para uma reação.
O desesperançoso é que não têm(estas massas populares) utilidade para o sistema capitalista, nem para os defensores do socialismo. Para uns não servem por que fora e inaptos no processo de criação de riquezas, e para outros por que incapazes de auto-crítica e construção de um projeto social reformador (ou revolucionário). Mais grave: em verdade, servem como massas de manobra, descompromissadas com quaisquer objetivos de um ou outro sistema político-econômico.

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