07 novembro 2006

Lapsos de Memória

“Estes discursos têm em comum
a intenção de despolitização.”

Definitivamente, o poder (e a perspectiva de prorrogar o exercício do poder) transforma as pessoas, independentemente do seu grau de inteligência, erudição e consciência política.
Infelizmente, transforma para pior. Costumam esquecer o que prometeram. Sacrificar a coerência. Ignorar as lições da história. E, mais grave, subestimar a inteligência e a memória do cidadão.
Encerradas as eleições, mas sobrevivos os escândalos e esgotadas as desculpas (de colete), membros do governo e o próprio presidente Lula falam em desestabilização e “terceiro turno”, diante dos prováveis e continuados atos de oposição político-partidária.
Esquecem tudo o quanto a oposição sofrera no período militar e em sucessivas campanhas eleitorais – ou mesmo na falta de eleições. Naquelas ocasiões, militares e seus amigos civis argumentavam exatamente sob a mesma ótica, isto é, que as eleições – ou a vitória da oposição - iriam atrapalhar a paz nacional, a abertura política, a atração de investimentos financeiros, perturbar a estabilidade econômica, etc...
Estes discursos têm em comum a intenção de despolitização. Dão a entender que o melhor mesmo é não haver debates e contestações. E que tudo isto é para o bem do povo e a felicidade geral da nação.
É evidente que o processo democrático, em seu ápice, pode trazer perturbações de ordem social ou imprevistos de natureza econômico-financeira, haja vista a hegemonia da economia de mercado. Mas seu mérito incontestável está na regularidade do processo, na sua previsibilidade institucional, independentemente de quem seja o eventual detentor do poder.
Em qualquer momento, é legítimo às oposições desfraldarem as bandeiras que quiserem, sejam de contestação ou não ao poder instalado, sejam de desafio ou não à normalidade das coisas, submetendo-se, é lógico, à avaliação e julgamento popular.
Quem sempre fez o discurso da hierarquia dos princípios(sic) e a defesa do processo, não deve deixar-se levar por esta demagogia. Fosse o discurso de um general ou de um ditador de plantão, ou alguém à semelhança e arrogância de Collor (lembram o que dizia em 1989 do perigo Lula?), seria natural e previsível.

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