30 janeiro 2006

Mumbai - a globalização da luta e da esperança

“...emergiram novos ideais de (re)construção de um mundo diferente, uma cultura universalista, uma vontade política de natureza cosmopolita, cujo principal referencial é “direitos humanos para todos os seres humanos”.

O recente Fórum Social Mundial, realizado em Mumbai, na Índia, teve dimensões e repercusões universais, promovendo a mais extraordinária mobilização e reunião de cidadãos de todo o planeta. Estima-se que acorreram 75 mil delegados (20 mil de fora da Índia), 2.600 organizações de 132 países, 2 mil jornalistas de mais de 45 países.
Durante as mais de 1.200 atividades, evidenciou-se o desejo e a esperança no fortalecimento dos movimentos pela paz, a resistência contra o militarismo, contra o unilateralismo econômico e às guerras. Houve consenso, também, na crítica à ordem dominante e exclusiva do capital financeiro.
Mas a incursão pelas profundas contradições e desigualdades da comunidade indiana, e asiática, proporcionou uma ampliação no caráter geográfico, social e universal do Fórum, resultando na visibilidade, diversidade e expressão de inúmeras identidades não reconhecidas e de direitos negados.
Conseqüentemente, emergiram novos ideais de (re)construção de um mundo diferente, uma cultura universalista, uma vontade política de natureza cosmopolita, cujo principal referencial é “direitos humanos para todos os seres humanos”.
Como era previsível, os Estados Unidos foram o principal alvo dos participantes. A opção e intensificação norte-americana por um “estado de guerra permanente” resultou em inúmeros manifestos. Entre tais, destacam-se as seguintes frases e slogans: “ a ocupação do Iraque demonstrou o vínculo existente entre o militarismo e a dominação econômica de parte das corporações transnacionais”. Ou então: “o capitalismo, em resposta a sua crise de legitimidade, recorre ao uso da força e da guerra para manter uma ordem econômica antipopular”. Finalmente: “é o imperialismo que estimula os conflitos religiosos, étnicos, raciais e tribais em seu próprio benefício, estimulando o ódio, a violência e o sofrimento dos povos.”
Mas os manifestantes e panfletários não estavam só em suas ações e conclusões anti-americanas. Ilustres convidados confirmaram o discurso predominante no Fórum. A escritora e ativista Arundhati Roy disse que "a linha entre democracia e imperialismo está se tornando cada vez mais frágil". Samir Amin, economista e diretor do Fórum do Terceiro Mundo(Dakar-Senegal) afirmou que "os EUA querem controlar o mercado global...estão com uma postura parasitária...para manter sua hegemonia precisam...se apossar do dinheiro do mundo. Isso não é mercado. Isso é roubo." O deputado trabalhista inglês Jeremy Corbyn declarou que “o Iraque está à venda para os interesses globais”. O sociólogo Cândido Grzybowski(Ibase) sustenta que “o unilateralismo de George Bush está alimentando a lógica de guerra e terror”.
No tocante às desigualdades sociais, destaque-se a preocupação de Josef Stiglitz (Prêmio Nobel de Economia de 2001): “ é fundamental discutir a questão da seguridade social como um dos aspectos mais relevantes da pobreza, já que todas as dimensões sociais estão ligadas à insegurança social, como a violência e a fome”. A dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt, membro do Parlamento Europeu e do Partido Social Democrata, enfatizou a necessidade de “haver um Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social nas Nações Unidas com o mesmo poder do Conselho de Segurança. Precisamos também de um parlamento democrático na ONU, funcionando como um contrapeso à Assembléia Geral”.
É a globalização da luta, a globalização da esperança!