30 janeiro 2006

Um outro mundo é possível?

“Aventurar-se causa ansiedade,
Mas deixar de arriscar-se é perder a si mesmo.
Aventurar-se no sentido mais amplo é
precisamente tomar consciência de si próprio.”
Kierkegaard

Tardiamente compreendida a importância do Fórum Social Mundial pelos atuais governantes estaduais – embora o parcial auxílio financeiro, mas confirmada sua próxima realização na Índia, resta a renovação da utopia e o congraçamento universal.
A organização e realização de um evento de contraposição à inevitabilidade histórica, ou ao dito fim da história, é um delírio coletivo aos olhos e coração de um conservador, que acredita que “a vida é assim mesmo, que as pessoas são o que são, e que os governos são todos iguais, enfim, o mercado é que sabe.”
Mas um outro mundo é possível. Povos e Governos experimentam ao longo de suas existências diversas teorias políticas e econômicas, alternando sucessos e fracassos. Nos dois extremos das experiências recentes encontramos o capitalismo e o comunismo, teorias ainda em busca de uma síntese.
Esta síntese imaginava-se realizada no Estado de Bem-Estar Social tipo europeu, o famoso welfare-state. Infelizmente, as alterações geopolíticas na Europa modificaram dramaticamente aquela realidade, submetendo-a à graves distúrbios sócio-econômicos.
Sob protestos, reina o capitalismo com todos os seus defeitos. No núcleo de tudo, o egoísmo, isto que alguns denominam de inevitabilidade da condição e natureza humana.
A mundializacão da economia e a concentracão do capital afetam e comprometem a unidade e coesão social dos povos, enquanto que as desigualdades econômicas aprofundam-se na medida que aumenta a supremacia dos mercados.
A contestação do modelo dominante legitima a revolta e a agitacão popular. Configura-se um quadro de inúmeras contradições que demandarão um profundo esforço e exercício de mobilização, resistência, organização e construção de alternativas. No centro, o exercício da liberdade pressupõe a tolerância e a solidariedade.
Utopia um: as relações econômicas deverão estar a serviço do ser humano, da pessoa, e não a pessoa a serviço da economia. A economia é objeto da pessoa e esta seu sujeito, e não a economia sujeito da pessoa e esta seu objeto.
Utopia dois: a liberdade de auto-determinação não pode limitar-se a capacidade e autonomia de consumo, mas sobretudo alcançar a idéia de um sentido próprio a vida, de sua consagração, conferindo um sentido positivo.
Utopia três: encontros com os sonhadores e os inconformados renovam a esperança de que virá o dia em que todos terão vida digna e acesso aos bens de consumo. Renova-se a esperança de superação deste estado de passividade, de mesmice, de deslumbramentos e macaquices com os modelos de vida dos impérios da hora.
Utopia nuclear: a esperança na superação da razão sobre o instinto predador.