30 março 2006


A banalização da responsabilidade social

Nestes moldes está operando-se uma vulgarização, uma banalização do princípio da responsabilidade social. O solidarismo, o voluntariado, a ação social, natural e espontânea, que devem retratar as virtudes e o senso ético de um povo, acabam por dar lugar à práticas menores e interesseiras.

É prática corrente, entre nós, a exaltação, declaração e propagação dos atos de honestidade, quando, sabidamente, deveria ser simplesmente a prática comum e cotidiana de cada um, sejam pessoas ou empresas.
Nos últimos anos, têm-se repetido a mesma ênfase tocante à prática empresarial, comumente denominada de responsabilidade social.
É rotineira a divulgação de premiações e honrarias sob o pretexto do cumprimento de legislação fiscal e tributária, não exploração de mão de obra infantil, proteção e compensações ambientais, entre outras “virtudes”.
Há, inclusive, “selo de cidadania atribuído à empresas que pagam seus impostos, cumprem a legislação, assinam a carteira de trabalho dos empregados e utilizam produtos de comprovada qualidade”.
Em outras palavras, aquilo que deveria ser o óbvio, o padrão de comportamento, passa a ser uma virtude declarada e premiada. Agrava-se a questão na medida em que setores oficiais passam a conceder outorgas honoríficas pelo cumprimento da lei.
O legal e obrigatório é tido e havido como excepcional. Inversamente, é permitido e possível deduzir que os não premiados, até prova ou prêmios em contrário, estão a margem da legislação. Ou seja, sua desonestidade é presumida, haja vista que não possuem nem ostentam atestado de idoneidade passado por autoridade competente, salvo as burocráticas certidões.
Nestes moldes está operando-se uma vulgarização, uma banalização do princípio da responsabilidade social. O solidarismo, o voluntariado, a ação social, natural e espontânea, que devem retratar as virtudes e o senso ético de um povo, acabam por dar lugar à práticas menores e interesseiras.