30 março 2006

A NATUREZA DO SER

Muitos cidadãos, não afeitos aos detalhes da política, simplificam as questões da sociedade brasileira, supondo que suas soluções sejam administrativas, ou seja, que estejamos, há muito tempo, ou desde sempre, diante de uma falta de capacidade gerencial.
Este pressuposto tem legitimado candidaturas “de pessoas esclarecidas, estudadas”, e inviabilizado as pretensões de outros pretendentes, entre os quais destaco, Lula, estigmatizado como “sem estudo para ser presidente do Brasil”.
Tenho insistido que nossas dificuldades de superação e solução dos graves problemas nacionais concentram-se na natureza do poder estabelecido, na insensibilidade das elites econômicas e empresariais e, finalmente, nas contradições comportamentais e de caráter do próprio povo. Explico através de perguntas.
Quantas vezes não pretendemos “levar vantagem” as custas do esquecimento ou erro alheio, mesmo sendo aquele “simples e barato pote de margarina” que o caixa esqueceu de contabilizar?
Quantas vezes nos indignamos com casos de corrupção governamental e empresarial apresentados na TV, embora saibamos de vários na nossa comunidade, embora de menor quilate?
Aquele presente especial que recebemos do comprador ou fornecedor da empresa no natal será menos corruptível do que aquele que recebeu determinada pessoa ou aquele político conhecido?
Ou, falando de política:
Quantas vezes voce votou em determinado candidato por causa de algum favor ou “quebra-galho”, em detrimento de candidatos mais qualificados?, e acha isso muito normal, mas quanto a TV mostra os casos, voce afirma que “é por isto que o Brasil não vai para frente!”.
Quando o Collor “congelou” todos os ativos financeiros, principalmente a poupança, inclusive o “dinheirinho da vovó”, e voce não foi para rua reclamar, como teria reagido se o Lula Presidente tivesse feito aquele “ato administrativo”?
E senhor que é empresário, e admira todos os grandes empresários nacionais, como reagiu quando seus ilustres nomes estavam na lista de PC Farias, doadores de dinheiro e compradores de favores oficiais?
Como é possível que queiramos que o país vá para frente se algumas pessoas/empresas sonegam obrigações fiscais e direitos trabalhistas, alegando dificuldades com a carga tributária, mas no momento político oportuno acabam votando naqueles que se beneficiam do sistema e não desejam sua alteração?
Recentemente, apenas como exemplo, a FIERGS e “meio-mundo” rechaçaram, escandalosamente, a tentativa de aumento de ICMS proposto pelo governador Olívio, mas, contraditoriamente, quando o ex-governador Britto aumentara de 17 para 18% não houve nenhuma reação?
Será que é possível que haja níveis de tolerância ética, níveis de concessões políticas e sociais e níveis de corrupção tolerável? E que todas estas pequenas concessões não tem nada a ver conosco e com os próprios destinos do país?

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