30 março 2006

A RECEITA DO FMI
Astor Wartchow
Advogado

Os leitores que honram-me com sua generosa atenção perceberam o enfoque político-econômico dos últimos artigos publicados nesta singular seção. Trata-se, não é necessário explicar, o tema do momento, tanto por sua repercussão na vida de cada cidadão, quanto como elemento definidor de políticas de investimentos nos diversos níveis públicos e privados.
Neste sentido, as recentes – e as históricas – visitas do FMI contribuem para elevação da “temperatura” política, aguçando teses de todos os matizes e variantes. Devo relembrar que nossas relações e compromissos com o FMI são históricas e polêmicas, notadamente marcadas por não cumprimento de acordos!
A esquerda brasileira sempre hostilizou as receitas do FMI, enquanto que os governistas, desde os tempos de dominação militar, curvavam e adaptavam-se àquelas exigências, às vezes mais, às vezes menos. Entretanto, independente das diferenças ideológicas e das concepções de desenvolvimento de cada facção, restava unânime que as receitas do FMI eram e são recessivas.
Agora, recentemente, o tema FMI volta a tona com imensa força e atualidade, diante dos graves abalos financeiros ocorridos em vários países, provocando os mesmos debates históricos acêrca de suas intervenções de socorro e a natureza de suas exigências e recomendações.
Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo, sob o título “e se o médico errar de novo?”, reproduz notícias e informações das economias da Tailândia, Indonésia e Coréia, que confirmam que “a contração da economia da Tailândia, em 1997, foi maior que do originalmente se (FMI) calculara”. No mesmo artigo reproduz notas de economistas e investidores que confirmam os equívocos e excessos recessivos decorrentes da receita do FMI, concluindo que “só resta, agora, torcer para que o Brasil não seja a Tailândia...”
A contestação ao FMI cresce, dia após dia, admitindo-se, inclusive, sua extinção. Recentemente, “pipocaram” as seguintes notas de figuras famosas na orgia financeira mundial sobre a malfadada receita. George Soros, no Newsweek, diz que a crise cambial brasileira foi prevista pelo mercado. Exceção do FMI, que é parte do problema e não parte da solução” . Rudger Dornbusch (MIT) na revista Isto É/Dinheiro, “... o FMI e o G7 acabaram apoiando uma bomba-relógio cambial(brasileira) Isto é um horror!”. Jeffrey Sachs(Harvard) diz: “o que o FMI acaba de traçar para o Brasil é o roteiro do colapso econômico e social. Os juros aprofundam a recessão, o desemprego e a dívida pública.”
Para finalizar, ironicamente – porque a ironia é uma boa técnica de percepção!, o prêmio nobel de economia, Paulo Samuelson, a propósito de uma possível moratória brasileira, diz, na revista Exame, “...em economia, o que tem de acontecer acontecerá. Algumas vezes, como no caso dos milagres da Igreja Católica, é reconfortante manter a fé. Mas a economia não funciona com base em milagres. Bem, eu tenho rezado todas as noites pelo Brasil”.
Rezemos, nós, também! Amém!