30 março 2006

A MONTANHA MÁGICA
“Nossos diabos são nossos. Não dá para terceirizar toda a culpa universal. Infelizmente, não há montanhas mágicas. Nem do bem, nem do mal!”

Thomas Mann ambientou sua obra mais famosa em Davos, na Suíça. È onde reunem-se, habitualmente, os detentores do grande capital financeiro. Lula pretende participar.
Possivelmente, Lula imagina que seu poder de sedução irá sensibilizar estes personagens acerca dos males do mundo. Quem sabe balizar os futuros debates mundiais sobre fome, fraternidade, paz, ecologia, os temas da hora. Doce ilusão.
Entretanto, mesmo nada havendo para fazer em Davos, creio que Lula deva ir. Cinismo e hipocrisia combate-se com cinismo e hipocrisia. A hipocrisia dos capitalistas é notória e universal. Nada mais igual que um rico, que comportamento de rico. Quando o pescoço e os anéis estão a perigo, muda a postura, o discurso. Pelo menos de modo aparente. Aliás, apenas de modo aparente, esperando a mudança da maré.
Mas haverá o encontro de Porto Alegre, o 3º Fórum Social Mundial, oportunidade em que Lula será a figura máxima. Mas corre o risco de ser rotulado, vaiado, se confirmar a presença na Suíça.
O historiador e articulista Emir Sader diz que “Lula não deve ir a esse banquete dos responsáveis pela miséria do mundo, não deve emprestar seu prestígio a essa festa de alguns poucos banqueiros responsáveis pelas políticas que geram fome na África e na Ásia, na América Latina e aqui mesmo no Brasil. Lula não deve estar do outro lado da barricada”.
Sader exagera. Nossos diabos são nossos. Não dá para terceirizar toda a culpa universal. Infelizmente, não há montanhas mágicas. Nem do bem, nem do mal!