30 março 2006

CASSINO GLOBAL
"Estamos, pois, diante da forma “mais moderna, mais civilizada” de dominação e exploração dos povos, que é o “colonialismo de mercado”.

Quando aprendemos a história do Brasil, da América Latina, da África, da Ásia, percebemos que a intervenção estrangeira nos negócios e nas riquezas nacionais evoluiu de sistemas primários e grosseiros para sistemas modernos e discretos, politicamente aceitáveis no concerto internacional das nações.
Tivemos os períodos de extrativismo, quando os “descobridores” limitavam-se a transferência física de riquezas; de colonização, “garantindo” a posse territorial; face as ondas nacionalistas e revolucionárias, sucederam-se as intervenções estrangeiras, ora com uso de força militar, ora pela intervenção política.
Como estas intervenções legitimavam as reações internas, constituídas de segmentos políticos nacionalistas e insubmissos à dominação estrangeira, os países dominadores apoiaram a substituição da intervenção direta por ditaduras militares locais. Tudo a pretexto do combate ao perigo vermelho, o comunismo!
Posteriormente, o processo evoluiu para formas mais “modernas e civilizadas “ de dominação. Surgem os grandes e generosos empréstimos financeiros do Banco Mundial, do BIRD, entre outros bancos, avalisados pelo FMI, todos atrelados a determinados negócios, altíssimas taxas de juros e riscos(spread).
Assim, chegamos às portas dos anos 90, mais precisamente, período que coincide com a queda do muro de Berlim e a decadência generalizada dos países comunistas, identificado por alguns historiadores como “o fim da história”, notadamente por determinar o fim da bipolarização mundial entre o capitalismo e o comunismo.
Então, aproveitou-se o grande capital mundial, liderado por americanos, japoneses e alemães, principalmente, para a definitiva sofisticação das formas de dominação política e econômica, resolvendo, a um só tempo, a manutenção da intervenção financeira nos países periféricos, hoje denominados “emergentes”, e a ampliação dos mercados de consumo, capazes de desovar seu excesso de produção e o fechamento financeiro dos déficits internos, exportando sua própria inflação.
Esse momento político mundial, documentado através do famoso “Consenso de Washington”, precipitou a total abertura econômica dos países, patrocinando a privatização em massa, o fim de barreiras alfandegárias, redução de impostos, o livre trânsito dos capitais financeiros, etc...
Esse conjunto de medidas foi particularmente danoso para os países periféricos, tradicionalmente endividados, deficitários, agora escancarados à competição mundial, provocando a gritante desnacionalização da economia, quebradeira generalizada de empresas, flexibilização e precarização das relações trabalhistas.
Evidentemente, que várias medidas são salutares para a economia, tais como as privatizações e abertura econômica, mas ancoradas em proteção gradativa, capaz de proteger as empresas nacionais, garantir empregos, e, principalmente, mercado para nossos produtos.
Estamos, pois, diante da forma “mais moderna, mais civilizada” de dominação e exploração dos povos, que é o “colonialismo de mercado”, cujo melhor símbolo são as bolsas de valores, o grande cassino global; pagamos a remuneração dos capitais, sentados sobre nosso imenso cheque especial, sem data de vencimento, sem limite de saque, mas a um preço que não tem tamanho, imensurável em termos financeiros, mas identificável nos índices de pobreza, de criminalidade, de falências e concordatas, de desemprego, de lojas de R$1,99, de produtos chineses, de coca-cola, de mac’donalds, disneylândia, consórcio de carro asiático, vinho alemão de garrafa azul argelino, etc..,etc...etc...