30 março 2006

A glamourização da pobreza e da criminalidade

“Não se trata de negar a realidade dos fatos. Trata-se de denunciar o rótulo e o sucesso fácil, o estigma marcado em ferro e brasa, feridas de rara cicatrização e esquecimento.”

O cinema brasileiro está na moda. E o núcleo narrativo está em torno da pobreza, em torno da criminalidade; aliás, não é novidade, andam juntas. Mas não são absolutas.
Central do Brasil, Cidade de Deus, Carandiru, Madame Satã, entre outros, são filmes que exageram na relação da pobreza com a criminalidade. Mas este exagero não é exclusividade do cinema. A música tem contribuído expressivamente. Vejam o conteúdo das letras musicais dos rappers, principalmente.
O exagero está na inevitável vinculação dos estados de pobreza com a marginalidade, simbolizados pela relação “periferias e favelas com violência, drogas e criminalidade”.
O exagero está na estigmatização de uma parcela da população, de menor poder aquisitivo e afastada de serviços públicos essenciais, equivocada e injustamente associada ao mundo do crime.
O exagero está na não demonstração da maioria silenciosa composta de trabalhadores, estudantes, donas de casa, igrejas, crianças, associações de moradores, que resistem e esforçam-se, bravamente, para manter a dignidade e a honestidade, apesar do estado de pobreza e do abandono pelo Estado e setores da sociedade ditos e pretensos “dignos e responsáveis”!
Não se trata de negar a realidade dos fatos. Trata-se de denunciar o rótulo e o sucesso fácil, o estigma marcado em ferro e brasa, feridas de rara cicatrização e esquecimento.

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