30 março 2006

A Era do Conformismo

“Periodicamente, a humanidade defronta-se com graves contradições quanto a natureza das relações de trabalho e a repartição de seus frutos. Em nome destas contradições, no ânimo de sua superação e constituição de novos sistemas, quase sempre idealizados, norteados para critérios de justiça, ocorrem revoluções, destituições de governos, caos, desordem, todas ações precursoras de uma nova ordem, regra geral, com a pretensão de mais justiça e igualdade.”

Mesmo que a maioria das pessoas não tenha o mínimo interesse pela política, não importam as razões pessoais, o fato é que, historicamente, através dela é que ocorrem as transformações da sociedade, seja por ação ou omissão.
Entenda-se que a política é muito mais que a discussão vulgar, inócua, as vezes, exercida pelos partidos políticos e por seus narcísicos líderes.
A política alcança e age em todos os níveis de intervenção humana, principalmente naquelas relacionadas as relações econômicas e de trabalho.
O trabalho e a sua remuneração continuam sendo, e continuarão sendo por muitos séculos, o núcleo central da formação e ação humana. Periodicamente, a humanidade defronta-se com graves contradições quanto a natureza das relações de trabalho e a repartição de seus frutos. Em nome destas contradições, no ânimo de sua superação e constituição de novos sistemas, quase sempre idealizados, norteados para critérios de justiça, ocorrem revoluções, destituições de governos, caos, desordem, todas ações precursoras de uma nova ordem, regra geral, com a pretensão de mais justiça e igualdade.
Agora, neste exato momento, ocorrem duas reuniões de repercussão mundial. Em Davos, a reunião dos detentores e gerentes do capital e núcleos de produção, e, aqui, em Porto Alegre, a reunião dos que sentem-se excluídos da perspectiva de um desenvolvimento mundial mais integrado e menos injusto.
A nossa imprensa, por sua maioria, historicamente conservadora e comprometida com os detentores de capital, tem ironizado a reunião de Porto Alegre, classificando-a, antecipadamente, de sonho, de delírio, em contraponto com a reunião em Davos, esta nominada de “realidade”.
Esta abordagem não deixa de ser verdadeira. De fato, há uma realidade dominante e predominante, qual seja, a absoluta supremacia do dinheiro, do capital, sobre todas as formas de manifestação humana, como jamais se vira antes.
Em contraponto, não deixa de ser um sonho, uma idealização, enfrentar este modelo de mundo. E enfrentam-no aqueles que não creêm que as relações humanas e a realização pessoal restrinja-se a capacidade de acumular dinheiro ou adquirir bens, por mais importantes e úteis que sejam, como já se reconheceu, obviamente.
O sonho, a idealização, as metas “impossíveis”, sempre foram o motor da humanidade. O que seria do mundo se não fossem os loucos inventores, revolucionários, navegadores, escritores, cujos olhos e mentes delirantes “viam” o que o mundo não via, “sentiam” o que outros não sentiam, “queriam” o que a maioria não queria?
Eu sonho, inclusive, que a era do conformismo não supere nossa capacidade de sonhar!

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