30 março 2006


Farsa na Administração Pública

“O desvio de função das razões de estado, das competências públicas, fica evidente no financiamento com dinheiro público de clubes e associações, telenovelas e miniséries, leis de incentivo industrial e cultural para mega-empresas, propaganda governamental, feudos eleitoreiros denominados secretarias... “

Uma das faces de nossa pobreza cívica, da fragilidade do que denominamos democracia, revela-se na identificação e na realização das prioridades públicas em todas as esferas do estado brasileiro.
De um lado, um conjunto de precariedades e dificuldades sócio-econômicas, notadamente nas áreas de saúde, educação, habitação e trabalho, suficientes para marginalizar expressiva parcela dos brasileiros de qualquer expectativa de transformação e melhoria; de outro lado, escassa disponibilidade financeira do setor público, apesar da absurda arrecadação e concentração tributária, e governantes preocupados com cenários ilusionistas e factóides midiáticos.
Naturalmente, estes setores marginalizados não tem poder de influência sobre os governantes, salvo entre um processo eleitoral e outro, o que explica a hierarquização anti-social das obras e dos serviços públicos. Ou em outras palavras: o que explica a destinação de expressivas parcelas de dinheiro público para questões que não são essenciais às necessidades do povo.
Tem-se tornado rotineiro, tanto na esfera federal, estadual, quanto municipal, o financiamento de ações e atividades de duvidoso retorno e investimento social, haja vista que a situação do povo não muda. Aí estão as favelas, a miséria, o desemprego, o trabalho infantil, entre outras chagas sociais.
O desvio de função das razões de estado, das competências públicas, fica evidente no financiamento com dinheiro público de clubes e associações, telenovelas e miniséries, leis de incentivo industrial e cultural para mega-empresas, propaganda governamental, feudos eleitoreiros denominados secretarias, etc e etc..., tudo, é óbvio, a pretexto de gerar emprego e renda.
Não fosse trágico, é cômico observar os livres empreendedores, os ousados e competentes capitalistas(sic), em busca do financiamento público, e os vocacionados humanistas e socialistas convertidos à natureza selvagem da mais valia, tudo, como sempre, a pretexto do bem-estar do povo(sic)!
Esta distância entre os verdadeiros interesses do povo e as razões de estado, relativamente ao poder de influência e cooptação dos donos/amigos do poder – haja vista a real qualidade e natureza do destino do dinheiro público, faz de nossa modesta democracia e de nossa administração pública uma farsa!