30 março 2006

A PAIXÃO DE LILITH
(a primeira transgressora)

Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Poderia falar de suas conquistas, de nossas profundas diferenças e do quanto podemos e devemos aprender com/sobre isto. Como homenagem reproduzo partes de um poema de Pamela Hadas, denominado a Paixão de Lilith:
“O que gente como eu tinha a fazer com gente como Adão?
E no entanto por algum capricho ou mesmo por obra de Seu humor negro
Fomos atirados juntos, a terra polida e o brilho da lua...
Então Adão quase me deixou louca - meu primitivo e boquiaberto homem,
Dócil como pilão e brando como a lógica vivia ostentando o direito divino de suas propriedades perante minha óbvia carência de bens.
A princípio, tentei agradar, abri minha caixa de milagres para ele;
Ele só queria mondar as ervilhas. Queria seus pássaros em sua mão,
Usei, de bom grado, de todos os rodeios.
Fiz um abrigo de folhas, trepadeiras e veneno para anjos;
Ele não quis entrar. Não quis se deitar sob minha improvisada colcha de retalhos.
Preferia morrer.
Ele tinha a Palavra, recebera-a do alto, enquanto eu, anterior aos alfabetos, inútil, permanecia mergulhada no remoinho do caos.
Jardins foram feitos para ordenadores, jardineiros foram feitos para ordenar,
mas eu não sou ordenável, sou a primeira transgressora.
Por isto, enquanto Adão cercava cuidadosamente suas bestas e apertava a sebe,
E enquanto os anjos guerreavam e buliam os nervos de Deus,
Inadaptada e fora do lugar, fugi.
Xinguei Adão.
E deixei meu primeiro amor
Chupando o dedão.”

Lilith, conhecida como a primeira Eva, é uma figura mitológica presente em várias culturas. Rejeitada, negligenciada e estigmatizada pela cultura e poder patriarcal, fundado em temores diante da impressionante instintividade feminina, Lilith está de volta com toda sua força e independência.

Nenhum comentário: